Um Coração em Deus

30.01.2013

Dá-me, Senhor Deus, um coração vigilante, que nenhum pensamento curioso arraste para longe de ti; um coração nobre que nenhuma afeição indigna debilite; um coração recto que nenhuma intenção equívoca desvie; um coração firme, que nenhuma adversidade abale; um coração livre, que nenhuma paixão subjugue.
 Concede-me, Senhor meu Deus, uma inteligência que te conheça, uma vontade que te busque, uma sabedoria que te encontre, uma vida que te agrade, uma perseverança que te espere com confiança e uma confiança que te possua, enfim.

S. TOMÁS DE AQUINO, OP

Bento Domingues, OP, “Ano da Fé. Um Decreto, Para Quê? (3)”

28.01.2013

Dir-se-á que ainda não há distância suficiente para interrogar e avaliar o período pós-conciliar que, segundo alguns observadores, misturou a primavera com o inverno, de que falava Karl Rahner. Mais delicada ainda será a apreciação das medidas da Congregação da Doutrina da Fé que atingiram os mais inovadores teólogos e movimentos teológicos e pastorais, nos diversos continentes, sobretudo nas décadas de oitenta e noventa, medidas que, aliás, ainda não estão cansadas.

[...]

Diante dos gravíssimos problemas actuais da sociedade e da Igreja, nota-se um tal retraimento e timidez, que é legítimo perguntar: não estarão as comunidades cristãs a serem vítimas de um longo período no qual a sua voz não contou para nada? Quando, agora, nos interrogamos sobre a sua falta de empenhamento militante, talvez esqueçamos uma resposta antiga: ninguém nos convocou, ninguém quis ouvir a nossa voz, compartilhar as nossas dúvidas e interrogações, tomar a sério a nossa situação pouco canónica e pouco alinhada com a opinião dominante.

A Natureza no Pensamento Cristão Medieval

24.01.2013

Bento Domingues, OP, “Ano da Fé. Um Decreto, Para Quê? (2)”

21.01.2013

É antiga a convicção de que o silêncio é o pai dos Pregadores e que a graça da pregação é secundada pelo estudo e pela contemplação. A fórmula dominicana foi cunhada muito cedo e já fazia parte do ensino de Tomás de Aquino: contemplar e dar testemunho da realidade contemplada. Era, desde a antiguidade, conhecida e exaltada a superioridade da vida contemplativa em relação à vida activa. Em benefício da sua própria causa, o santo doutor observou: a vida activa, que nasce da abundância da contemplação, vale mais do que a pura contemplação. Iluminar é melhor do que ser, apenas, luz. Foi este, aliás, o estilo da vida escolhida por Jesus.

A resposta é brilhante. Na prática, continuava a rivalidade entre o tempo consagrado ao principal e o tempo gasto com realidades temporais, inferiores. O tempo gasto na actividade esvaziava os ganhos da contemplação. A oração de S. Domingos, testemunhada pelos seus contemporâneos, estava sempre povoada pelas alegrias e tristezas do quotidiano. O trabalho apostólico não o dispersava nem o esvaziava.

O Baptismo como Mergulho e Emersão

20.01.2013

A partir de Is 62,1-5, 1Cor 12,4-11, e Jo 2,1-11:

Neste domingo em que celebramos o baptismo de Jesus recordamos como ele foi ungido pelo Espírito Santo (isto é, pelo amor divino), tornando-se Cristo. Podemos pensar no baptismo que nos tornou cristãos. Através deste sacramento mergulhamos livremente em Deus, e emergimos numa nova vida, renascemos, através de uma consciência comunitária em igreja. O que Jesus fez e continua a fazer é mostrar como as portas do céu, que pareciam fechadas, estão escancaradas. Deus está no meio de nós, torna-se presente para nós quando amamos o próximo. Inspirados pela primeira leitura, olhemos então para Jesus como aquele sobre o qual repousou o espírito de Deus para que ele e a Igreja que continua o seu trabalho iluminem os povos na procura de um amanhã justo e pacífico.

Ser Humano

20.01.2013

Ser humano é lutar pela plenitude da vida.

FREI BETTO, OP

Entrevista a Fr. Bruno Cadoré, OP

18.01.2013

O Mestre-Geral da Ordem Dominicana, fr. Bruno Cadoré, esteve recentemente em Portugal. Conheci-o pessoalmente quando visitou o Convento do Cristo Rei no Porto, ao qual estou ligado. Fr. Bruno escuta com humildade e atenção, procurando sempre formas de fomentar a união e promover a cooperação entre as pessoas para que a alegria dos laços floresça. A RTP transmitiu uma reportagem da visita que inclui uma entrevista a ele e ao Mestre da Província Portuguesa, fr. José Nunes. Pode ser vista aqui nos primeiros 10 minutos.

Bento Domingues, OP, “Ano da Fé. Um Decreto, Para Quê? (1)”

18.01.2013

A incapacidade de questionar, em profundidade, esta versão trituradora da máquina capitalista é a vergonha do nosso tempo. O Papa relembrou-o, muito recentemente, mas os economistas, os gestores, os banqueiros, os ministros que se confessam cristãos preferem espiritualidades de chá de tília religiosa, a ouvir o clamor dos pobres e dos empobrecidos e questionar teorias que mostram a sua inadequação, pelos frutos que produzem. As teorias são para os seres humanos, não estes para teorias, onde as pessoas estão sempre a mais.

As interrogações são inevitáveis: tanta ciência económica e financeira, ensinada nas Universidades Católicas, não será capaz de imaginar contributos para alternativas concretas, técnica e politicamente viáveis? A Banca é para salvar as pessoas ou serão estas, as exploradas, que devem salvar os interesses da Banca, mediante decisões governamentais? Não será possível desconstruir configurações políticas que, nos seus efeitos, resultam em grandes negócios para uns e em castigo para a maioria da população? Estaremos numa civilização esgotada a transitar de continente para continente, enquanto sistema de exploração, sem tentar curar as suas raízes?

Bento Domingues, OP, “Presépio Aberto”

09.01.2013

A banalização ou a ocultação dos presépios escondem as teologias das construções literárias do presépio dos evangelhos de S. Mateus e de S. Lucas. Reflectem, ambos, um debate interno ao próprio judaísmo. As primeiras gerações dos discípulos de Jesus eram formadas por mulheres e homens judeus que desejavam abrir por dentro o próprio judaísmo. O presépio reflecte o que se passou na vida adulta de Jesus e na construção das comunidades com a presença do mundo pagão.

Jesus não nasce na cidade de Jerusalém, centro do poder político e religioso. Os pastores representam, precisamente, os que não frequentavam o culto oficial e são os primeiros a chegar ao presépio. Os Magos passam por Jerusalém, mas não ficam lá. A estrela desloca-os para a periferia, significando que se trata não de um fenómeno astronómico, mas teológico. Se os judeus da religião ortodoxa não reconhecem Jesus, os Magos, pagãos, procuram-no. Jesus, com Maria e José, depois da viagem pelo Egipto não vão morar no templo. Vão trabalhar para Nazaré, no meio de toda a gente. O presépio realiza, em miniatura, o que foi a revelação de Jesus na sua vida adulta: Deus anda à solta e faz a sua morada, o seu templo, onde menos se espera e faz família com quem não é da família.

O Céu em Portugal

09.01.2013

Szaza vem de Istambul e já passou por muitos lugares: Áustria, Bélgica, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Eslováquia, Espanha, EUA, Finlândia, Grécia, Hungria, Líbano, Nepal, República Checa, Turquia, e Vietname. Está agora em Portugal e olha para a realidade portuguesa de um modo atento, descobrindo a dimensão espiritual do nosso quotidiano que tantas vezes nos escapa — como aqui. (Obrigado, Filipa.)

A Humildade...

08.01.2013

A humildade brota do auto-conhecimento.

S. CATARINA DE SENA, OP

TEAR: Paz (João Gabriel Silva)

07.01.2013

Visita Canónica do Mestre-Geral da OP

03.01.2013

O Mestre-Geral da Ordem dos Pregadores, fr. Bruno Cadoré, chega hoje a Portugal para uma visita canónica que vai passar ainda pelo Porto e por Fátima. O programa detalhado da visita está disponível aqui.

Bento Domingues, OP, “Bom e Mau Desassossego”

02.01.2013

A vida é um desassossego, também, por uma boa razão. É muito desagradável olhar para alguém muito satisfeito com ele próprio e com a sua obra. Fica-se com a impressão de que já morreu e finge que está vivo. O desassossego significa que uma pessoa ainda não está acabada, ainda tem futuro, está a fazer-se. Uma Igreja sossegada, convencida de que é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, precisaria de alguém que lhe lembrasse que parou antes de tempo.

[...]

Dadas as conquistas sociais, culturais e políticas que as mulheres já conseguiram, diferenciadas segundo os países e continentes, existe a tentação de não olhar de frente os crimes que continuam a cometer-se contra a parte maior da humanidade. Direitos e deveres implicam igualdade social de mulheres e homens. A hierarquia católica e as autoridades de outras confissões religiosas não podem reclamar essa igualdade na sociedade civil e negá-la no campo religioso, incapacitando-as de se tornarem as grandes impulsionadoras, a nível local e mundial, de mudanças inadiáveis.

A Procura Revolta da Paz

01.01.2013

Na medida em que a pessoa está em Deus, a pessoa está em paz. Tudo o que de uma pessoa está em Deus tem paz; tudo o que de uma pessoa está fora de Deus tem tumulto. S. João diz, “todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo” (1Jo 5,4). O que quer que nasce de Deus procura a paz e corre para a paz. Por isso Jesus disse, “vade in pace: vai em paz, corre em paz”. A pessoa que está numa corrida, uma corrida contínua, e está em paz, tal pessoa é uma pessoa celeste. Os céus revolvem-se constantemente e ao correrem procuram a paz.

MESTRE ECKHART, OP, “Sermão 7”
(trad. Sérgio Dias Branco, a partir da trad. para inglês de Frank Tobin)