Como um Homem que Não Existe

24.08.2015

O Abade Agheras disse-me: “Um dia fui visitar o abade Poemen e disse-lhe: ‘Morei em todos os lugares, mas em nenhum encontrei repouso: onde achas que devo viver?’ O ancião respondeu: ‘Nunca num lugar deserto, nunca. Vai viver num lugar populoso, no meio da multidão, permanece e conduz-te como um homem que não exista. Assim conseguirás o repouso soberano.‘”

Ditos dos Padres do Deserto

Levantados do Chão

18.08.2015

Mas o nosso Deus diz-nos para nos levantarmos e sermos livres.

TIMOTHY RADCLIFFE, OP

Afazeres Humanos

02.08.2015

Regressado das cerimónias fúnebres da mãe de um amigo, lembrei-me de um episódio recente. Por vezes pensa-se que os padres sabem de antemão o que dizer numa ocasião destas, debitando chavões fáceis e vazios sobre a morte. Nem todos. Um consciencioso padre tinha que falar depois de um acidente que vitimou um miúdo e, dada a amizade que nos une, convidou-me a ajudá-lo. Faltavam-lhe as palavras. Nestas situações (e esta era particularmente trágica) é comum ficarmos sem palavras. Mas há pequenos gestos, que nos arrancam ao entorpecimento, que incitam a continuação da vida, ajudando quem diz adeus para que a perda não os engula. Enviei-lhe uma frase da carta que Basílio de Cesareia escreveu à viúva de Nectário: “Não meças a tua perda por si só; se o fizeres parecerá intolerável; mas se levares todos os afazeres humanos em conta vais descobrir que algum conforto é derivado deles.” No contexto definido pela frase, “afazeres humanos” é uma expressão que evoca, não apenas o que fazemos, mas também o modo como aquilo que fazemos nos vai fazendo humanos.