O Apelo da Religião

25.02.2015

Ao (Des)Abrigo do Nome (5)

25.02.2015

conduz-nos, Deus,
de questão em questão,
de fogo em fogo,
sem satisfações que ao tempo bastem
e a nós assombrem;
que passemos da catalogação
do que julgamos conhecer
ao poço dos enigmas infindáveis
onde o rosto é para sempre fundo,
desmentido, diferido
não nos mure a estrutura em espelho
que escamoteie a procura da verdade,
mas que o dom da tua palavra nos visite
como o canto do galo,
a lembrar o dia novo,
o perdão e a graça

JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “de questão em questão”

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“Ao (Des)Abrigo do Nome”: (1) · (2) · (3) · (4)

Ao (Des)Abrigo do Nome (4)

23.02.2015

seja o teu rosto
o brasão da casa,
a alegria, o mosto
na aflição, a asa

sejam os traços
do teu nome em fuga
o rebento, o laço
com o sol, a uva

dá à nossa vida
a graça de ser
no corpo em partida
tendas de acolher

e que ouçamos vir
o teu dia, o som
de paisagens verdes,
promessas do dom

JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “o rosto e a casa”

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“Ao (Des)Abrigo do Nome”: (1) · (2) · (3)

Ao (Des)Abrigo do Nome (3)

21.02.2015

esta é a mesa da nossa comunhão
o pão, o vinho e a memória
que cada um transporta

esta é a mesa do nosso conhecimento
as bodas do nosso advir e da nossa páscoa:
o corpo de Deus ao nosso corpo dado

JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “comunhão”

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“Ao (Des)Abrigo do Nome”: (1) · (2)

Ao (Des)Abrigo do Nome (2)

19.02.2015

que te digamos, Deus
como o lugar-espelho
da união intrínseca dos contrários
e dos ritmos

que te digamos como o rio
expondo a ideia
de uma identidade em mutação,
um veio em fuga
na textura polémica das coisas

que te digamos
inscrevendo-nos
no arco da vida e da morte,
homens feitos algo infantes

que te digamos
como a flecha que reúne
e abre um horizonte sem clausura,
como o possível do mundo que se conta

que te digamos
no turbilhão do que permanentemente flui,
no que nos une e nos desune,
Deus, poeta das origens,
pedagogo da esperança e do amor
que em nosso peito arde
e que a memória do Espírito
cada instante reacende

JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “dicção de Deus”

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“Ao (Des)Abrigo do Nome”: (1)

Ao (Des)Abrigo do Nome (1)

17.02.2015

Deus que vens de Deus,
horizonte da nossa linguagem e do nosso desejo;

Deus que anunciamos
na espessura do que em nós é riso
e choro, ao mesmo tempo infiguráveis;

Deus, instante fugaz
da sede e da fome saciadas, diferidas;

que descubramos no corpo dos outros
os traços do bem que procuramos e perdemos;

que a nossa vida te reconheça
pela maneira como por ti se vê reconhecida
na teia do que passa e permanece,

tu que és aquele que há-de vir,
e Deus connosco

JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, “Deus que vens de Deus”