A Produção do Comum

18.12.2016

Fazei silêncio e ouvireis o ruído das batalhas. Não há exterioridade possível a cultivar em tempo de combate. É preciso resistir, erguer a vida contra o poder sobre a vida. A tradição e o presente são aquilo que já não existe. O Museu não assegura a sobrevivência do que constantemente flui, se perde e se transforma. A fé não nos traz o repouso, mas a inquietude. Paz com Deus significa conflito com o mundo. A fé não acomoda, incomoda. Mantém-nos in statu viatoris. O dever das comunidades é de transportar “a responsabilidade da esperança” que está nela (1Pe 3,15). Temos de recusar ficar de fora e à margem: o devir cristão há-de fazer-se no interior dos campos e das formas da vida. Porque o que falta é a produção do comum. O que falta é acordar do sonanbulismo civil e religioso em que vivemos. O que falta é criar espaços de liberdade: fazer amizades, reflectir, rezar. O que é preciso é viver em estado permanente de paixão e fazer da vida a beleza, a procurar.

JOSÉ AUGUSTO MOURÃO, OP, Luz Desarmada