The Love of God

23.04.2018

For God, the creator and manipulator of the world, cannot himself, it seems, be other than a vast omnipotent baby, unable to grow up, unable to abandon himself in love. Nietzsche, and, from a different starting point, Karl Marx, saw that to accept this God was to accept a kind of slavery. However kind and good God might be, we were ultimately his servants; perhaps well­ treated servants or slaves, perhaps slaves compassionately forgiven and rewarded with the life of heaven, but still fundamentally slaves. If you believe that the essence of the human is freedom then you cannot accept this benign slave-master of a God. The heart of modern atheism, certainly the heart of Marxist atheism, lies in the rejection of this master-slave relation­ship. God is not rejected because he is evil or cruel but because he is alienating and paternalist; he is rejected not in the name of human happiness but in the name of human freedom.

Now to a Christian the interesting thing is that this God who is rejected by the modem atheist is in fact pre-christian. It is just this God that is abandoned first by the Ten Commandments and then by Jesus. The central thing that Jesus says is something he says about himself; it is that the Father loves him. His primary announcement is that the Father is, after all, capable of love, that after all God has grown up. God is capable of love and he, Jesus, is the object of that love. Of course God cannot love the creature as such, there could be no foundation of equality there. But Jesus announces himself as the beloved of the Father and this reveals a depth in him that is beyond creaturehood. To say that Jesus is divine and to say that God is capable of love is to proclaim one and the same doctrine. Any unitarian view of God, or Arian view of Christ, immediately destroys the possibility of divine love — I mean divine love in the serious adult sense. We are left with a benign dictator, what Bishop John Robinson in Honest to God called a “Top Person”. It is only the doctrine of the divinity of Christ (and thus the doctrine of the Trinity) that makes possible the astounding and daring idea that God can after all genuinely love. He is in love with the Son, and the exchange of divine love between them is the Holy Spirit.

HERBERT MCCABE, OP, God Still Matters

Ipsum Esse Subsistens

21.04.2018

Wittgenstein dizia que a filosofia, no fundo, deixava tudo como estava. Em relação a Deus acontece o mesmo. Deus não faz qualquer diferença em relação ao mundo — e se pensarmos que sim, que é um ser que interfere nele, que salva uns e deixa outros morrer, e por aí fora, estamos no terreno de uma fé que nos torna joguetes nas mãos de tal divindade. Mas, adoptando outra perspectiva, pode fazer toda a diferença. Há muitas imagens de Deus e é comum confundir-se a imagem com aquilo para o qual a imagem aponta, sem mistério nem incerteza. Nesse sentido, a imagem que é muitas vezes apresentada por ateus contemporâneos não corresponde a nenhuma imagem desenvolvida de forma profunda em qualquer tradição espiritual — muito menos a cristã, com a sua insistência no pensamento de Deus em-nós e entre-nós, como encarnação, comunidade, relação, trindade. Se o ateísmo rejeita qualquer ideia de um deus como chefe supremo, a melhor teologia já o fazia há muito tempo. E também nós o devemos fazer, sem pestanejar. A fé nasce da graça, do modo como participamos na vida divina, da vida que abre as portas à realização das potencialidades do ser (“Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus”, escreveu Santo Irineu no seu Tratado Contra as Heresias). Não, não acredito “num Deus omnipotente que nos observa, escuta, que assiste ao sofrimento humano sem lhe por fim”. Acredito que Deus não é um ser, muito menos um ser absoluto, de poder ilimitado, mas ipsum esse subsistens, o próprio ser subsistente como articulou Tomás de Aquino ou o alicerce do ser como podemos ler na teologia de Paul Tillich, com o qual nos relacionamos de forma pessoal procurando viver amorosamente.

Sobre a Ressurreição

02.04.2018

Nota breve para amizades ateias. A Ressurreição no cristianismo não é a reanimação de um cadáver que produziu uma espécie de morto-vivo. Nunca se transmitiu isso na Igreja. Trata-se, antes, de uma nova criação, da criação de um novo corpo, espiritualmente renovado a partir daquilo que existia. Cristo está vivo connosco. Pelo menos que não acreditem naquilo em que, de facto, quem se diz cristão acredita. Recupero um excerto de um texto do fr. Bento Domingues, OP, de 2004, “Ressurreição e Insurreição”:

Jesus passou a sua existência terrestre — segundo o que dela sabemos — numa insurreição permanente contra tudo o que degrada a vida humana. Essa insurreição era para ele uma questão de obediência à vontade de Deus e dela se alimentava. O Crucificado, o rejeitado por uma coligação de interesses, abriu, a todos, o caminho e o processo da ressurreição. Jesus, ao perdoar aos próprios inimigos, ao entregar nas mãos do Deus vivo aqueles que o entregavam à morte, consumou a sua insurreição contra tudo o que degrada e separa os seres humanos, isto é, o poder do ódio, o poder da morte. A partir daquele momento Jesus Cristo era, é e será para sempre uma vida dada. Que a celebração da Ressurreição de Cristo nos ajude a procurar os bons caminhos para vencer as raízes dos ódios que ensanguentam a terra.